sábado, 24 de outubro de 2009










No passado do poeta que escreveu versos sublimes, há quase de certeza um professor que o obrigou a exercitar-se na sintaxe, que o forçou a corrigir vezes sem conta frases mal escritas, que ralhou com ele quando se desleixava. Na juventude daquele que escreveu uma bela sinfonia houve muito possivelmente uma professora, talvez já velhota, que lhe explicou cem vezes, pacientemente, qual era a forma correcta de colocar as mãos quando se sentava ao piano.

O poeta e o músico tiveram os seus nomes escritos na História, mas ninguém recorda quem foram os seus mestres. No entanto, há uma beleza imensa nesse passar despercebido, nesse ter rasgado as mãos ao trabalhar nos escuros alicerces de um mundo melhor. Uma beleza que só é apreciada pelas grandes sensibilidades, como são as daquelas pessoas que se dedicaram de corpo e alma à educação. Uma boa parte da humanidade prefere aquilo que dá nas vista ou produz frutos imediatos...

Os teus filhos, portanto, devem habituar-se desde pequenos a ajudar em casa, a prestar serviços na medida das suas capacidades. O lar, esse milagre quotidiano, deve ser também uma construção deles. Algumas vezes as tarefas que lhes deres exigir-lhes-ão um sacrifício custoso. Mas sem isso a casa não seria a sua casa: seria um lugar vazio, a pensão onde teriam de ir dormir e comer durante mais algum tempo, exigindo que os servissem sem falhas. Assim, porém, sentir-se-ão responsáveis por aquilo que foi também obra sua. Acabarão descobrindo por si mesmos as tarefas que é preciso realizar. Olharão para a casa, para os pais, para os irmãos com os olhos perspicazes do amor.

Poucos jovens habituados a facilidades e diversões constantes - jogos de computador, música, televisão, consola, vídeos, festas... - serão bons alunos. Não serão bons, de resto, em outros aspectos bem mais importantes para a sua felicidade. Os pais que deixam os filhos habituarem-se e esse tipo de actividades estão a minar-lhes dramaticamente o caminho da vida e a felicidade. Alguns pais e educadores costumam, infelizmente, empenhar-se em tirar as dificuldades da frente das crianças e dos jovens, em vez de os ajudarem a tornarem-se fortes para as enfrentar. Dessa forma preparam seres frágeis, que têm, durante certo tempo, uma existência ociosa e doce, mas estão destinados a sucumbir à mais leve aragem da vida. Dessa forma se tornam responsáveis por uma espécie de flores de estufa, condenadas por atrofiamento à incapacidade de viver a vida como ela é.

(Paulo Geraldo)


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