quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Autonomia e Criatividade em Sala de Aula

É interessante verificar que, com o início da genética e da biologia
molecular em princípios do século, o tema da autonomia
gradualmente desapareceu do discurso científico. Paralela e
rapidamente, a técnica e a mecânica fizeram céleres avanços e se
encaminharam para a cibernética e a teoria do controle. Essa é a
razão por que atualmente não pensamos em autonomia na esfera dos
sistemas naturais, e simplesmente passamos por alto, sem
considerar que se possa falar de autonomia de maneira precisa. Já
a contrapartida da autonomia, o controle, pode ser definida sem
inconvenientes. (Francisco Varela)




Vivemos em um universo criativo. Cada uma de nossas células expressa, na estrutura bioquímica de seus DNAs, a convergência de mais de três bilhões de anos de criatividade da vida. Entrarmos em uma mata e percebermos a criatividade ali presente é uma das mais profundas formas de perceber essa característica intrínseca da vida.
Qual é a ordem que ali se expressa? Milhares de sons, cores, formas, cheiros e diferentes tipos de energia fluindo. O mais forte padrão que podemos perceber na natureza é a criatividade ininterrupta. Há pouquíssimos anos, os homens acreditaram que poderiam, à sua forma, organizar e controlar a natureza.
Nesse mesmo sentido, passaram a inibir a criatividade inerente a cada um e também passaram a controlarem-se uns aos outros. A produção de uma ordem humana, imposta por pequenos grupos, fez desenvolver na sociedade o paradigma do controle. Disseminado, esse novo paradigma tem se expressado em todas as formas de organização social.
No universo educacional, para citarmos apenas um dos milhares de exemplos, podemos perceber nitidamente a necessidade que muitos adultos têm de controlar as crianças e os adolescentes, impedindo a plena expressão de sua criatividade visceral. Mas não é possível impedi-la. A criatividade brota entre as crianças e adolescentes como as ervas daninhas que insistem em crescer por entre uma ordenada monocultura de milho.
E da mesma forma que, ao invés de mudarem-se os padrões de diversidade desse tipo de plantação, aproximando-a dos exemplos de diversidade dados pela natureza, os homens optam por apenas matar as ervas com veneno; insiste-se em manter os padrões de ordem e controle escolar, chama-se a criatividade dos alunos, expressa em meio a essa ordem imposta, de indisciplina, e crê-se que se pode exterminá-la com o veneno do autoritarismo.
Vê-se, no entanto, a criatividade brotar de forma recorrente sob a forma da denominada indisciplina, em todos os cantos. Enquanto se continuar tentando controlar os alunos a partir da perspectiva de uma ordem externa, desrespeitando seus processos de auto-organização, estará se perdendo a expressão criativa dos mesmos para resgatar um mundo em diversidade e autonomia.
O papel do educador deveria ser, nada mais do que seduzir os alunos a convergirem o seu potencial na geração de um currículo participativo, diversificado e criativo, que dança ao som de uma bela música e que apresenta o seu prazer na autonomia e imprevisibilidade do próximo passo. O ritmo da dança é a criação de um mundo em plena expressão da diversidade de vida, mais justo, amoroso e sustentável.


Trecho do artigo: Mourthe Jr., C. A. Empreendedorismo Socioambiental, experiência com projetos no Ensino médio, Cap. 2 em Empreendedorismo na Escola. Ed. Art Med. - Pitágoras, Porto Alegre, 2005


Carlos Alberto Mourthe Junior  é Coordenador de Ciências da Natureza Matemática e suas tecnologias do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley – São José dos Campos - SP



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